O jejum é caracterizado por períodos de inanição, ou seja, momentos onde ficamos sem comer.
Nosso corpo é extremamente adaptado para essa condição, visto que, biologicamente estamos sujeitos a um ambiente onde nem sempre a comida estará disponível e, muito provavelmente, teremos que gastar bastante energia para encontrá-la.
Com isso, temos algumas reservas de energia.
A primeira delas é oriunda da glicose, um carboidrato. Temos três locais de depósito desse substrato: o fígado (glicogênio hepático), a musculatura (glicogênio muscular) e a circulação sanguínea.
Somados, temos algo em torno de 320g de glicose (200g do fígado, 100g dos músculos e 20g da corrente sanguínea), que pode variar dependendo da massa muscular do indivíduo, e nos fornece cerca de 1280 kcal. MUITO POUCO!
Além disso, cada molécula de glicogênio necessita de 3 de água para ser armazenada e esse é um dos motivos dos estoques serem limitados.
A segunda forma de reserva de energia é através da gordura. Nosso corpo tem em média 20-30% de gordura. Cada grama de gordura possui 9kcal, o que se torna um estoque energético bem grande.
A vantagem em relação às reservas de glicose, é que a gordura é hidrofóbica. Isso significa que ela não tem afinidade com a água e acaba sendo estocada de forma "seca".
Existe ainda uma terceira forma, porém podemos considerá-la como um SOS, que seria a energia gerada através do tecido muscular. As proteínas tem funções estruturais e metabólicas, a função energética deve ficar em último plano. Uma perda de 30-50% desse tipo de tecido já pode ser incompatível com a vida.
Mas vamos voltar ao motivo que te fez clicar nesse texto: o JEJUM!
O jejum é composto por quatro fases e agora te convido a conhecer cada uma delas.
Jejum interprandial: jejum no período inter-refeições. É aquele período de 3-4hs entre uma refeição e outra, que já é o suficiente para reduzir os níveis de insulina e iniciar os processos de glicogenólise (quebra de glicogênio hepático para a regulação da glicemia) e lipólise (quebra de gordura no tecido adiposo).
Jejum pós-absortivo: jejum em um período de até 12 hs, quando o conteúdo de comida no intestino já está completamente esgotado.
Nessa fase que está no controle da regulação da glicemia e fornecimento de glicose para tecidos que utilizam prioritariamente a glicose como fonte de energia (cérebro e hemácias), é a gliconeogênese.
A gliconeogênese é a geração de glicose a partir de outros substratos que não são glicose. Aqui temos o catabolismo muscular, o lactato (produto da glicólise muscular) e o glicerol (parte da molécula triacilglicerol, a famosa gordura).
Lembrando que outros processos de fornecimento de energia mais lentos, como a lipólise, beta-oxidação e formação de corpos cetônicos estão acontecendo nos bastidores.
Jejum de curta duração: dura de 1-3 dias. Aqui a intensidade de gliconeogênese através de proteólise muscular pode estar dobrada para fornecer energia para o cérebro e as hemácias.
Caso esse processo se estenda, a manutenção da vida pode estar em risco.
Jejum prolongado: a partir de 4 dias, podendo se estender por mais de 20 dias, dependendo da quantidade de tecido adiposo do indivíduo.
Lembra que existiam outros processos se desdobrando?
Então, o cérebro não consegue utilizar ácidos graxos como fonte de energia, mas CORPOS CETÔNICOS sim!
Aqui eles já estão presentes em uma boa quantidade na corrente sanguínea.
Agora com uma via energética alternativa, a intensidade do catabolismo muscular passa a ser diminuída, e consequentemente, o risco de morte também.
Aposto que só tem contam essa última parte, né? Onde seu corpo virou uma máquina de queimar gordura🔥
Pois é, antes disso você fica extremamente flácido devido à perda de musculatura. Se o seu objetivo era ficar bonitinho(a), ESQUECE! E a terrível dor de cabeça nos 3 primeiros dias? Agora faz sentido? É o seu cérebro tendo dificuldade de acesso à glicose e se adaptando ao uso de corpos cetônicos como fonte de energia.
O texto é sobre jejum, mas você sente/passa por essas fases, talvez em menor intensidade, quando faz uma dieta CETOGÊNICA.
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